Embora os Jogos Olímpicos de Paris 2024 estejam promovendo diversas iniciativas para reduzir sua pegada de carbono, a jornada para atingir essas metas é repleta de desafios significativos. A rastreabilidade e a contabilidade das emissões, além da padronização de critérios, são apenas alguns dos obstáculos que a organização enfrenta. Além disso, especialistas e organizações da sociedade civil levantam preocupações sobre a robustez das medidas adotadas, sugerindo que as iniciativas podem ser insuficientes para alcançar uma redução real e significativa das emissões de gases de efeito estufa (GEE).
Rastreabilidade e Contabilidade das Emissões
Um dos principais desafios para qualquer grande evento que busca reduzir suas emissões de carbono é a rastreabilidade e contabilidade precisa dessas emissões. Identificar todas as fontes de emissões associadas aos Jogos Olímpicos, desde a construção de instalações até o transporte de espectadores, é uma tarefa complexa.
Segundo um relatório publicado em abril de 2024, cerca de 70% das emissões de carbono de Paris 2024 não possuem uma estratégia robusta de mitigação. O relatório destaca que muitas das emissões associadas a atividades indiretas, como viagens internacionais de espectadores e fornecedores, não são contabilizadas adequadamente, o que pode comprometer a integridade dos esforços de redução de carbono. Como consequência, sem uma rastreabilidade eficaz, torna-se difícil monitorar o progresso real em direção às metas estabelecidas.
Padronização de Critérios
A falta de padronização de critérios para medir e relatar as emissões de carbono é outro desafio significativo. Diferentes metodologias de cálculo podem levar a resultados discrepantes, dificultando a comparação e a avaliação dos dados. A harmonização dessas metodologias é essencial para garantir a transparência e a credibilidade dos esforços de redução de emissões.
A padronização também se estende às práticas de compensação de carbono. Embora Paris 2024 planeje investir em projetos de compensação, como o plantio de árvores e a restauração de ecossistemas, a eficácia desses projetos pode variar. Sem critérios claros e padronizados para avaliar e certificar a qualidade desses projetos, há o risco de que as compensações não resultem nas reduções de carbono esperadas.
Especialistas e organizações da sociedade civil têm expressado preocupações sobre a suficiência das medidas adotadas por Paris 2024. O pesquisador Yannick Jadot, por exemplo, afirmou que “o modelo atual dos Jogos Olímpicos é incompatível com um mundo de baixo carbono”. Jadot argumenta que, apesar das boas intenções, os Jogos Olímpicos, por sua própria natureza, são eventos que geram uma quantidade significativa de emissões devido à construção de infraestruturas e à mobilidade global necessária.
Além disso, a organização Carbon Market Watch criticou a abordagem de Paris 2024, afirmando que “os compromissos de neutralidade de carbono são muitas vezes ilusórios e não refletem reduções reais de emissões”. A organização aponta que, sem uma mudança fundamental na forma como os Jogos Olímpicos são organizados, as emissões continuarão a ser um problema significativo.
Obstáculos Práticos e Logísticos
Além das questões técnicas, há também obstáculos práticos e logísticos a serem superados. A implementação de tecnologias de energia renovável, por exemplo, requer investimentos significativos e coordenação entre múltiplos stakeholders. Garantir que todos os fornecedores e parceiros adotem padrões de sustentabilidade estabelecidos também é um desafio, especialmente quando se trata de cadeias de suprimentos globais complexas.
A logística de transporte é outro desafio importante. Embora Paris 2024 esteja promovendo o uso de transporte público e veículos elétricos, a mobilidade de centenas de milhares de pessoas durante o evento representa um enorme desafio logístico. A infraestrutura existente pode não ser suficiente para lidar com a demanda, resultando em congestionamentos e emissões adicionais.
Caminhos a Seguir
Apesar desses desafios, Paris 2024 pode servir como um laboratório para testar e desenvolver novas abordagens para eventos de grande escala. As lições aprendidas podem ajudar a aprimorar as estratégias de sustentabilidade para futuras edições dos Jogos Olímpicos e outros grandes eventos.
Para enfrentar os desafios de rastreabilidade e contabilidade, é crucial investir em sistemas de monitoramento avançados que possam rastrear emissões em tempo real. A utilização de tecnologias como blockchain pode aumentar a transparência e a precisão dos dados.
A harmonização de critérios de medição e compensação de carbono deve ser uma prioridade. Estabelecer padrões internacionais pode ajudar a garantir que as práticas de sustentabilidade sejam consistentes e verificáveis.
Além disso, a colaboração entre governos, organizações internacionais e a sociedade civil é fundamental para desenvolver soluções eficazes e escaláveis. A troca de conhecimento e melhores práticas pode acelerar o progresso em direção a eventos mais sustentáveis.
Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 representam um passo importante na direção certa, mas alcançar uma redução significativa da pegada de carbono requer mais do que boas intenções. Enfrentar os desafios de rastreabilidade, contabilidade e padronização é crucial para garantir que os esforços de sustentabilidade resultem em reduções reais de emissões. Com a colaboração e a inovação contínuas, é possível transformar a forma como grandes eventos são organizados, promovendo um futuro mais sustentável para todos.